quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um Homem Feito de Palavras.

Nasce um mineiro. Da cidade de Itabira, levaria o silêncio que pairava no ar, aderindo muito mais ao escrever que o falar. De lá também, viriam à vida serena e o seu olhar. Era filho de pais burgueses, como se disse, e educado no temor de Deus. Saiu de sua cidade sem que ela saísse dele, jovenzinho, insubordinou-se assim, sem se vender, já que a nova escola tramou de tratá-lo baixo, pela grandeza de suas ideias. Cresce. Agora redator do Diário de Minas. Cresce meio apertado: pelas linhas, páginas, pelo não-verso. Pela moldura que houve de pregar após os anos de Odontologia e Farmácia que serviriam para tanto somente. Mas foi. Perscrutando, agindo e ganhando, como amigo de Andrade e de Bandeira, como modernista n’A Revista Antropofagia, como marido, ainda que com meio-amor. Como professor, como pai ¬¬– agora, sim, com muito amor. Também, viu-se virar um grande assunto, já que a pedra em seu caminho era justamente como as dos sapatos de alguns. Desta publicação viriam as críticas, conhecê-las-ia quando moço, e só. Segue. Funcionário público, pacato por excelência, financia o primeiro livro. Alguma Poesia. Vai se tornando grande sempre simples, cotidiano e intérprete do homem. Era também crítico e muito sensível, deu uma rosa ao povo, com formas livres e fixas. Ainda, era fiel defensor do momento de inspiração: respirou, transpirou e suspirou: a morte de sua filha poucos dias depois fez-nos descobrir que ultrapassara a última pedra no caminho e escrevera o último poema. E assim viveu, como homem feito de palavras,CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

Carlos Drummond de Andrade – Cronologia


• 1902 - nasce em Itabira – MG (“Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro” – “Confidência do Itabirano”)
• 1919 - Expulsão do Colégio Anchieta: “insubordinação mental”. Perdeu a fé naqueles que o julgavam
• Primeiros trabalhos publicados no Diário de Minas;
• 1924 - Escreve carta a Manuel Bandeira, manifestando-lhe sua admiração. Conhece Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade. Pouco tempo depois inicia a correspondência com Mário de Andrade, que durará até poucos dias antes da morte de Mário.
• 1925 - Funda A revista, que teve três números, expressando as idéias modernistas.
• 1925 - Formou-se em Odontologia e Farmácia (“Fico apenas na moldura/ do quadro de formatura”)
• Casa-se com Dolores Dutra de Morais
• 1926 - leciona Geografia, redator do Diário de Minas e do Minas Gerais
• No mesmo ano, 1927: Nasce e morre seu primeiro filho Carlos Flávio
• Drummond publica na Revista de Antropofagia o poema “No meio do caminho”, provocando furor no meio literário;
• 1930 - publica seu primeiro livro Alguma Poesia
• 1934 - Brejo das Almas. Muda-se para o Rio de Janeiro para trabalhar no gabinete do ministro da Saúde e da educação.
• 1940 - Sentimento do mundo
• 1942 - Poesias
• 1945 - O gerente e A rosa do povo
• 1987 - No dia 5 de agosto, depois de 2 meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. "E assim vai-se indo a família Drummond de Andrade" - comenta o poeta. Seu estado de saúde piora. 12 dias depois falece o poeta.

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